domingo, 3 de julho de 2016

Variedades? - Por Jaqueline Miranda

Autora da Crítica: Jaqueline Miranda, Graduanda da Licenciatura em Teatro UFPA, Bolsista PROINT 2016 pelo Projeto TRIBUNA DO CRETINO
O palco escolhido foi a Praça Batista Campos, mais precisamente entre duas árvores em frete ao castelinho, onde eu estava sentada em uma das pedras. Demarcando o espaço, uma corda no chão e algumas capas de sobrinhas, os lugares "Vips", segundo denominação dada pelos palhaços da Trupe Nós, os Pernaltas. Algumas pessoas se aproximam e tomam o espaço, logo voltando sua atenção para os palhaços que, em breve, começariam a apresentação do espetáculo Varieté. De imediato identifico algo que me desperta muito interesse em escrever esta crítica, isto é, a sonoplastia. Fiquei muito entusiasmada quando vi vários instrumentos musicais no centro do palco, pois a palhaçaria me chama muito atenção e mais ainda quando os palhaços tocam e cantam ao vivo, mas também confesso que fiquei frustrada, pois  não houve um melhor aproveitamento desse recurso. Compartilho, então, minhas impressões sobre o modo com que a música foi executada neste espetáculo, a seguir.   
Considero que as músicas escolhidas e entoadas pela trupe foram executadas de modo um tanto atrapalhado, com erros na letra e no ritmo musical – na música, certa quantidade de tempo somada a uma de silencio cria um movimento chamado de ritmo ou pulsação. Percebi também que as músicas serviam apenas para tapar alguns buracos – como, por exemplo, de indecisões dos números que viriam depois. Enquanto assistia ao espetáculo me vieram alguns questionamentos, tais como: não seria melhor se apropriar de apenas um recurso técnico, como nesse caso – por exemplo, o musical – do que fazer uma variedades de coisas e não executá-las bem? Isso é o que me chama mais atenção na apresentação da Trupe, pois pude perceber que a música não teve um papel positivo na apresentação dos palhaços, fiquei bastante incomodada não só pelos erros, mas também pelo mal uso das músicas em cena.
Houve um número que me chamou atenção e se dava do seguinte modo: Dois palhaços pegavam seus instrumentos – um tambor e um triângulo respectivamente, – e tocavam uma música regional para que um terceiro palhaço chamasse alguém da platéia para dançar; até ai tudo bem, enquanto não haviam começado a tocar, pois quando começaram, demorei um pouco para entender qual a música que eles tocavam, pois o palhaço que estava com o triângulo não tinha noção básica de música como de ritmo, conhecimento obrigatório pra quem toca algum instrumento de percussão, nesse caso o triângulo.
A partir disso penso que eu em quanto artista se não domino alguma área artística – seja ela a música, a dança ou o teatro – não seria adequado fazer uma variedade de coisas que, fatalmente, serão mal executadas por mim. Na condição de musicista com experiência na área de violão popular, violino, flauta e canto lírico saio do espetáculo Varieté com a impressão de que havia apenas a vontade de executar a variedade sem se preocupar com a qualidade que chegaria ao público.  Não é pelo fato de não me apresentar para uma platéia formada por músicos que não devo fazer uma boa música e creio que isso serve para todas as áreas, porque penso que a arte tem o poder de tocar as pessoas e a arte bem feita chega em lugares que pode se transformar.
Como me alegra a iniciativa da Trupe em levar a arte a lugares com acessibilidade a todos os tipos de pessoas – sejam elas crianças, jovens, adultos ou idosos. Mas me instiga também a qualidade com que isso chega a essas pessoas, não me refiro a qualidade em recursos, pois se pode fazer um palhaço com apenas um nariz pintado de vermelho ou não, contanto que a minha alma seja de palhaço e que isso chegue as pessoas.
Jaqueline Miranda

03 de Julho de 2016