sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Vidas em Divã – Por Andreza Pinto



Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos
Montagem : Teatro de Apartamento
Autora da crítica: Andreza Pinto. Atriz, estudante de Licenciatura Plena em teatro UFPA e participante do minicurso de crítica teatral “o que pode uma crítica teatral?”

Uma Drag Queen e um Gogo Boy dançavam na sala de espera de um teatro, no meio de pessoas, que pareciam surpresas e curiosas sobre o que ainda estava por vir, a espera de um espetáculo começar.
No outro lado da rua, uma festa infantil rolava e alguns convidados pareciam querer sair para ver o que acontecia e outros – menos curiosos – nem se moviam para ver aqueles dois seres, dançando em uma piscina de plástico chinfrim, cercados por espectadores. Alguns convidados, certamente, eram impedidos pela chuva ou pelo comportamento esperado diante dos anfitriões.
Já em seus devidos lugares para assistirem a vida (o drama de sete personagens que, sentados em um divã, contam suas vidas e toda espécie de frustração vivenciada diariamente a um psicólogo, vendo naquele profissional uma válvula de escape para seus problemas), a plateia assistia a cenas muito bem marcadas por músicas, pela luz e pela entrada da Tifanny Boo e pelo dançarino Mauro Santos, que também procuravam envolver o público na dança, que participavam um tanto quanto tímidos.
Todos esses fatos aconteceram diante de uma plateia, que reagia com gargalhadas a cada história contada ali. Os traumas, os medos, o desespero, a tristeza... E não há nada de engraçado nisso! Mas consolou ver, ao final do espetáculo, as pessoas comentando sobre os personagens, levando a uma reflexão sobre como ainda somos machistas, preconceituosos e como queremos viver a vida do outro sem ser convidado para isso, dando nossas opiniões e querendo resolver problemas que não são nossos ou mesmo viver de aparências.
Tome as rédeas de sua vida e das consequências de suas escolhas!
Do meu ponto de vista, as pessoas identificaram-se... Conheciam pessoas que tinham passado por um desses fatos ou simplesmente riram da desgraça do outro porque é cômodo e estavam no lugar permitido para isso. O teatro – visto por mim como um grande consultório – aproveitou-se do jogo entre os atores no palco e o seu público para mostrar suas emoções. Ele, o teatro, permite isso.
Assistindo a montagem PopPorn – Sete Vidas e Infinitas Possibilidades de corações Partidos fui levada àquela velha pergunta, “a vida imita a arte?” ou “a arte imita a vida?”.

Ficha Técnica:
POPPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos
Elenco:
Eliane Flexa , Erllon Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes,
Rony Hofstatter, Sandra Perlim, Saulo Sisnando
Participação especial:
Drag Queen Tifanny  Boo e o Bailarino Mauro Santos
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Breno Monteiro
Supervisão de Figurinos
Grazi Ribeiro
Assistência de direção:
Marina Dahás
Direção:
Saulo Sisnando

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

PopPORN! OLHAR ATOR / PLATEIA – por Rony Hofstatter



Seção “Palavra do Artista”

Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos.

Montagem: Teatro de Apartamento.

Autor da crítica: Rony Hofstatter, ator na montagem PopPORN.



PopPORN! Como participante deste espetáculo desde a primeira montagem sempre sentia um constante incômodo com a personagem que interpreto – Alexandre Richthofen. Eu não conseguia entender que incômodo era esse. Então, resolvi pensar além do viés de ator e parti para o viés da plateia. Como esse espetáculo me modificou quanto ator? E como plateia?

Será que eu, ator, tive a mesma vivência da plateia?

Não sei dizer.

O que posso dizer é que penso em PopPORN como um espetáculo que movimenta, desperta, incomoda algo e tange sentimentos e preconceitos que nem nós mesmos – às vezes – temos consciência.

Como ator, posso dizer que – quando eu estava na coxia, “ouvindo” os colegas em cena e esperando minha deixa – me sentia apreensivo e incomodado.

E esse incômodo... Bem, eu não conseguia discernir bem do que era, nem O QUE me incomodava.

Na coxia, eu conseguia sentir a crescente do espetáculo e, ao final de cada cena, vinha aquela torcida pelo colega: a plateia vai aplaudir? E muitas das vezes aplaudiram.

Então, vinha a minha vez. Plateia afoita, energia lá em cima e, na segunda fala, risos! Daí, eu pensava “Ufa! Hoje vai rolar”. Mas o que se seguia durante a cena eram risos velados, algumas cabeças baixas e aquele olhar que me encarava de uma forma que eu não entendia.

Terminava a cena: silêncio sepulcral!

Aquilo me incomodava muito e me levava a dois questionamentos: será que não fiz direito? Será que era a minha vaidade de ator – aquela que todos nós temos, afinal eu queria que a plateia risse bastante no meu texto também – que me causava esse incômodo?

A resposta veio quando, no penúltimo dia, lancei esse questionamento a alguns colegas e a resposta foi unânime: O silêncio sepulcral era a reação certa a ser esperada da plateia.

Entendi, então, a complexidade de PopPORN. O espetáculo tem de ser incômodo tanto para quem assiste quanto para nós, os atores. Na verdade, ele exige isso, pois abordamos sentimentos que são tolerados em sociedade, mas não falados.

A homossexualidade, o machismo, a intolerância e a violência, por exemplo, são retratados de forma cotidiana... Crua. E isso incomoda! Aflige tanto o espectador, quanto o ator.

Esta era a razão dos sorrisos apenas velados, das gargalhadas nos outros personagens e também do silêncio.

Em PopPORN, rimos de nós mesmos, achando que estamos debochando do outro e quando percebemos que nós somos a própria piada... Calamos!

PopPORN serve para incomodar e, quem sabe, não nos calar nunca mais.



Ficha Técnica

POPPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos

Elenco:

Eliane Flexa , Erllon Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes,

Rony Hofstatter, Sandra Perlim, Saulo Sisnando

Participação especial:

Drag Queen Tifanny  Boo e o Bailarino Mauro Santos

Iluminação:

Sônia Lopes

Sonoplastia:

Breno Monteiro

Supervisão de Figurinos:

Grazi Ribeiro

Direção:

Saulo Sisnando

PopPORN – por Leonardo Moraes


Seção “Palavra do Artista”

Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos.

Montagem: Teatro de Apartamento.

Autor da crítica: Leonardo Moraes, ator na montagem PopPORN.



No processo imaginado para a construção do espetáculo “PopPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos”, há muito forte em mim a existência de um grande mal-entendido. A dramaturgia em questão me apontava descaminhos, um lusco-fusco de sentimentos e personalidades retratados em personagens que apenas defendiam os seus ideais. Ou supunham que defendiam.  

No decorrer das cenas, nos deparamos com discursos homofóbicos, machistas, misóginos, expostos de forma cômica, provocando gargalhadas de quem assistia. E no riso, talvez, resida o objetivo maior de PopPORN. Não apenas no sentido de divertir as pessoas, e sim, no riso com significação social, visto que, ao rir de determinada situação levada à cena, o espectador reflete sobre aquilo que lhe provoca diversão. Será que estou rindo porque me identifico com o que acabei de ver? O que eu tenho em mim que lembra esse personagem? Qual o meu lado porn?

De maneira que, subvertendo o sentido do riso, oferecemos ao espectador uma forma de reflexão e autoconhecimento através da ridicularização do outro. Mas para que esta função seja cumprida é preciso que as máscaras sociais sejam retiradas e o lado porn (lado oculto?) seja revelado.

Nessa relação de conflitos morais e sentimentais, o “poderia vir a ser, mas não é” ganha forças na medida em que conhecemos a fundo os personagens, suas inquietações e suas falhas de caráter. O lado PORN de pessoas POP. O mal-entendido se estabelece e nele há sentido.

O jogo de caça e caçador que se instaura em cena, no qual todos são vítimas e algozes dos outros e de si mesmos, é o fio condutor do caminho desses seres que depõem sobre suas vidas, frustrações e ambições para o espectador, este, o seu cúmplice-confidente que assume o papel de terapeuta.

Mas ainda assim o espetáculo mantém sua essência cômico-romântica, e fala de amor e relações interpessoais, se propondo a brincar com momentos de tensão e diversão, possibilitando assim a oportunidade de experimentar várias sensações dentro de um único espetáculo, bem como no amor, onde as coisas nunca são totalmente estáveis.



Ficha Técnica:

POPPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos

Elenco:

Eliane Flexa , Erllon Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes,

Rony Hofstatter, Sandra Perlim, Saulo Sisnando

Participação especial:

Drag Queen Tifanny  Boo e o Bailarino Mauro Santos

Iluminação:

Sônia Lopes

Sonoplastia:

Breno Monteiro

Supervisão de Figurinos

Grazi Ribeiro

Assistência de direção:

Marina Dahás

Direção:

Saulo Sisnando